stereoloser

31.5.05

Irreversí­vel

- Desde o iní­cio?
- Ingrid, eu te amo.

O tempo passou, as coisas mudaram. Ingrid entrou cada vez mais em minha vida. Cada vez melhor. Joana agora não passava de uma lembrança boa, apagado todo o medo rancor dor e esse tipo de coisa. Joana agora era clara e sólida. Ingrid, esfumaçada por uma névoa de sonho e coisas boas, envolta numa aura intocável de cumplicidade. Ingrid, minha cara-metade, a que eu merecia e que estava guardada, a certa e intocável. Tí­nhamos ambos certeza disso.

- Cara! A Ingrid é tudo que eu sempre sonhei, é fantástica, é um sonho. Desculpa, mas não consigo não ser brega quando falo dela.
- Ah, sei lá, você não pára de falar nela, sumiu de repente, nem os amigos você vê com tanta freqüência.
- Que diabos é apanhadinho?
- Está apanhadinho por esta Ingrid hein?

E foi exatamente o que fiz. Decidi tentar. Uma duas três quatro vezes, cada vez me saí­a melhor. Não foi fácil, custou muito, mas um dia encontrei Ingrid. As coisas entre nós eram realmente fáceis, era fácil lidar um com o outro, ela complementava Joana, era menos fria, mais atenciosa, desde o primeiro momento tive a sensação de que nos conhecíamos há anos. Pela primeira vez em tanto tempo dormi pensando em alguém que não fosse Joana.

- Que tal tentar meu amigo?
- Não consigo me dedicar a ela porque Joana me incomoda e incita comparações e não some da minha vida.
- E aquela menina que você andava saindo?
- Não, todo dia ela martela meus dedões do pé e vai subindo, passa por minha barriga e leva embora minha fome, sobe até minhas unhas e faz com que elas desapareçam, chega na minha cabeça e toma todo o lugar.
- Você ainda não esqueceu Joana, não é?

Não teve jeito mesmo. Joana até gostava de mim, de um jeito que não me satisfazia mas era o máximo que ela podia dar. Talvez tenha sido isso que nos atrapalhou tanto, a expectativa de querer mais de um lado e o medo de não ser capaz de fornecer isso de outro. Incompatibilidade de expectativas, ou algo por aí­.

- Joana, Joana, sua filha da puta miserável desgraçada. Desapareça da minha vida, dos meus pensamentos, do meu estômago, por favor!

Não teve jeito. Joana estava decidida. Ela queria curtir a vida. Talvez estivesse no seu direito, apesar de me machucar e desmontar em vários pedaços, sim, era seu direito. Horrí­vel perder o controle e não ser capaz de dominar a situação por depender de outra parte.

- Joana não me deixe isso é uma grande cagada você é a pessoa perfeita pra mim isso não pode estar acontecendo!
- ...
- Joana eu te amo.


Escrevi ouvindo: Falling to Pieces | Faith no More

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Para este miserável André, meu amigo, comparsa, parceiro, irmão, dono desta espelunca, putinha relaxada. Acho que isso prova tudo comissário.

30.5.05

Para Milana



stereobaby fugindo do monstro axégode
[lembra do post de 09.05? Dia das mães?]
Talvez um dia publique minha salvadora.

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ATENÇÃO: O tí­tulo do post é também um link para o blog da moçoila.
Ouvindo: Soul Deep | Tahiti 80

25.5.05

The Facts Of Life



Use your imagination
We can go anywhere


Cabeça reclinada no balcão do bar. Embriaguez próxima.
- Oi.

Leve abertura dos olhos, percebe a ameaça.

- Diga, foi a resposta.
- Preciso conversar com você -tensão.
- Me paga uma cerveja e fale o que quiser.
- Mau humor?
- Cansado.
- Olha, queria que soubesse que tem sido ótimo seu trabalho por aqui.
- Que bom. Fico feliz.
- Mas...
- Sabia.
- Não, não é isso. Só estou preocupada.
- Unhum. As pessoas se preocupam demais comigo -irônico, de novo.
- Desculpe, mas estou de verdade. O que acontece?
- Por que?
- Você atende bem os clientes, é simpático, tem gente que volta só por sua causa.
- ɉ meu trabalho, não?
- Sim, e agradeço por isso, já disse. Mas existem coisas além do trabalho. Lembra da Kim?
- Sei.
- Ela nunca mais voltou. O que aconteceu?
- Nada. Só não quis levar trabalho para casa.
- Mas você pode. Pode e deve. Não quero que fique dando em cima de clientes, mas fora do horário de trabalho é completamente normal.
- Você quer me arranjar uma namorada, é isso?
- Não, só quero que se distrai­a um pouco. Não se isole tanto.
- Faz parte do trabalho?
- Droga, não é isso. Porra, queria saber o que te deixou tão amargo assim.
- O que não. Quem. E cético é a palavra certa. Amargo sempre fui.

Celular interrompe.

- Alo?
- Oi. Estou com saudade. Queria te ver.

Falta ar e reação. Tudo estático, tudo gira. Sem saber quanto tempo depois, a resposta:

- Como conseguiu o número?
- Desculpe. Queria mesmo falar contigo.
- Fale.
- Já disse, queria te ver.
- Quando?
- Agora.
- Onde?
- No The Hung Drawn, conhece?
- Não.
- The Hung Drawn and Quartered, um pub em central London, perto da Tower Brigde.
- Tá bom. Eu acho.
- Estou aqui perto. Espero você.
- Ok. Tchau.

From Blackpool tower to Brighton pier
Turn the lights out we know there's no-one here


Abraço longo, apertado. Apesar disso, as mãos não encontram um lugar confortável.

- Que bom que veio.
- Unhum.
- Você está... diferente.
- Deve ser o cabelo.
- Também.
- O acordo era entrar em contato se alguma coisa mudasse.
- ɉ, eu sei.

Damn butterflies.

- Então?
- Só queria saber como você está.
- Estou bem. Se era só isso, vou indo.
- Pára. Quero conversar.
- Então fale.
- Aqui não. Aceita caminhar?
- Tudo bem.

The candle is burning
So the modern butterfly
Can plant out a night-life
It's purely desire


- Foi bom ver você.
- Pena que nada mudou.

Suspiro.
Suspiro.

- É. Pena.
- Não quebre o pacto outra vez.
- Desculpe.

It's been a good night
[but that was] just a goodnight kiss


Separam-se. A cabeça pesa mil quilos. The Tower à frente. Destino.

Goodbye
Goodnight


Goodbye.
Ouvindo: Goodnight Kiss | Black Box Recorder

23.5.05

Requiem For A Dream [ST]



silêncio.
um minuto.
por favor.
Ouviria: Ghosts | Clint Mansel & Kronos Quartet

19.5.05

All Ages



Caso você fosse um desocupado ou curioso, e olhando nos arquivos chegasse ao ponto mais remoto deste blog, sabe o que você iria encontrar há exatamente um ano atrás? O primeiro post [particularmente não gosto, mas está aí por motivos históricos]. Nesse tempo já deletei uns dois ou três, houve uma tentativa de suicídio, fiquei oito dias sem postar e nunca cumpri nenhuma das promessas.
Como dizem por aí, suicídio que não dá certo é só para chamar atenção. Não concordo mas também não vou me explicar.
Este é o post 103. Nesse meio tempo, utilizando esta ferramenta nerd, conquistei admiradores, desafetos e expus meu amigo andré como nunca tinha feito. Incompreendido, compreendido demais, interpretado [certo e/ou errado], fiz magoar e fui magoado, sorri, abracei... resumo? Repassei para o computador exatamente o que acontece do lado de fora.

De presente o stereoloser ganhou a permissão de publicar o texto abaixo, escrito brilhantemente pela Gi, amiga, companheira, inteligente, linda, ombro, magrinha, referência, mimimiguxa, famosa, assediada e proprietária deste cantinho igualmente pluriadjetivável.
O conto também está lá, mas postar aqui me deu um gostinho de brigadeiro de festa de 1 ano.

Com quem será, com quem será...

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carta para brandon


Brandon,

Cara, tudo bem? Recebi sua carta há mais de um mês, fiquei feliz em saber que você finalmente saiu de seu apê fedido e foi visitar a Tia Dory. Pra mim, Chicago é a melhor cidade do país, mesmo com a bandidagem. Ou sem, está todo mundo preso, né?

Fiquei com saudades tuas e não sei bem porquê, pus uma mochila nas costas assim que terminei de ler a carta e corri até New York. Seria sorte minha se tua viagem fosse adiada, cheguei na rodoviária esperançoso em te ver. Saudade, cara! O teu apê tava trancado e se você estivesse caído no chão da cozinha, por causa daqueles teus desmaios, e não conseguisse levantar? O teu gato ia comer seu rosto, já que a ração teria acabado... Ah, Brandon, nessa hora temi por você!

Por isso chamei o chaveiro. Disse que o apê era meu, para evitar confusões. Falei também para os vizinhos que eu era o novo inquilino. Teve a vizinha gostosa do 308 que até chorou. Cara, você está devendo dinheiro pra ela?

Desde então está tudo bem por aqui. Consegui que um bar me pagasse para tocar violão, só acho que não acertei o estilo musical. Sex'n'roll ainda vai fazer sucesso na cidade! Por enquanto estou proibido de andar a menos de duas quadras do bar. E é desnecessário dizer que também não posso apoiar o meu, hm, pênis em ombros de mocinhas. Agora sempre tem polícia perto do teu apê, mas não sei se a culpa é minha...

Ah! Brandon, que fogão esquisito você tem! Só a Cathy sabe mexer nele. Ela é realmente esperta, essa garota. Já te falei de Cathy? Foi minha primeira amiga da cidade grande, Brandon! Ela reclama que as suas colheres são rasas demais para as doses de heroína que ela gosta. Cathy prefere doses grandes e espaçadas a várias doses pequenas. Várias doses é coisa de junkies, ela diz.

Teu gato eu não tenho visto. Nos primeiros dias ele vivia na minha perna, adorava os pedaços grandes de gordura que Cathy dava. Mas desde que Sinatra veio morar conosco, não o vi mais. Já te falei de Sinatra, não? Ele é o pastor belga que eu achei na rua. Fiquei com pena do pêlo dele caindo e das pulgas. O pêlo continua caindo e as pulgas ainda o acompanham, mas pelo menos ele tem casa e comida. Brandon, se você visse como ele gostou da tua cama! É lindo de ver seus olhinhos brilhando quando o sol da manhã bate no travesseiro.

Cathy não gosta do Sinatra, diz que ele fede. Mas, sinceramente Brandon, Cathy fede mais do que ele de vez em quando. Ela sumiu há uns dias. Mas ela sempre volta, é incrível! Acho que ela gosta de mim! Ainda não a beijei, mas sinto que esse dia está chegando, estamos morando juntos há um mês, quase! Se ela voltar sozinha dessa vez, eu me declaro. É que quando ela volta dos sumiços, sempre está acompanhada de amigos. Eles são irresponsáveis, mas não vou contrariá-la e expulsá-los de casa. Eles se injetam na sala, me trancam no quarto. Imagine, Brandon, que uma vez eles saíram quando sua cortina creme, aquela que Tia Dory te deu, começou a pegar fogo! Nem chamaram ajuda. Tive que derrubar a porta do teu quarto e apagar o fogo com uma panela cheia de sopa de feijão. E depois ainda levei Cathy no hospital porque ela estava verde, dormindo no chão. Só acordou quando o médico injetou qualquer coisa nela. Às vezes temo por Cathy, ela é tão frágil, coitada. Tua sala está com manchas pretas no tapete, mas acho que se colocá-lo no sol, sai.

Eu, graças a deus, não estou abusando do álcool como fazia nos bons tempos. E também não bebo desde o incidente com a polícia, não o incidente do bar, outro, Brandon. Uma noite eu e Cathy estávamos bebendo e ela começou a me provocar só porque não tenho um emprego e gasto o dinheiro das tuas economias que achei naquela lata alta na cozinha. Eu disse pra ela que ia trabalhar e ia devolver cada dólar que peguei emprestado. Eu não ia sobreviver sem eles, Brandon! Cathy disse que ela também ia devolver a parte que ela pegou e, não sei porque, eu dei um soco em seu olho esquerdo quando ela falou isso. E dei mais alguns no outro olho e um chute em seus pequenos seios. Não sei no que estava pensando. Cathy se levantou, escondeu a heroína nas orelhas caídas de Sinatra e chamou a polícia. Ela é uma garota realmente esperta, Brandon, vale a pena investir nela! Mas, bem, a polícia chegou e, como já tinha ficha por causa do bar, tive que dar o que restava de suas economias para o policial, ou eu ia preso. Eu, preso, Brandon! Depois de apenas um mês, em New York, um mês! Dei tudo que achei, relógio, dinheiro, aparelho de som. Mas para não ir pra cadeia, o policial disse que eu teria que dar duro pra conseguir mais dinheiro.

Por isso te escrevo esperando uma carta-resposta urgente. Mande-me dinheiro, Brandon, estou sem um puto e sem Cathy! Como vou me manter no seu apê até que você volte? Mande-me o mesmo valor que tinha no seu pote de economias que acho que está bom.

Mande lembranças a Tia Dory, diga-lhe que estou me virando bem na cidade grande, estou orgulhoso de mim mesmo. Ah, e mande-a fazer uma cortina creme nova o quanto antes, é difícil dormir com a luminosidade entrando pela metade queimada.

Quando Tia Dory morrer e você voltar a New York, te apresento Cathy. Você vai adorá-la!

Com amor,
Seu primo Sawyer

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E aí? Que tal escrever um post presente você também?
Ouvindo:
Fuck Armageddon...This Is Hell | Bad Religion
Birthday Cake | Cibo Matto

17.5.05

3..6..9 Seconds Of Light



Aproveito o marasmo para responder a primeira corrente bloguística que tenho conhecimento e expor minhas vergonhas literárias. Antes que alguém fale algo, me antecipo. Sou pop e senso comum, logo não espere encontrar nada muito diferente.

Repassado pela ana, a única garota que conheço que acha que, no inverno, o céu fica mais azul do que no verão. Talvez seja uma questão de olhar e isso possibilite aquele belo e constante sorriso ao contrário de minha tradicional carranca. Tenho muito que aprender nessa vida.

Editei gramaticalmente as questões pois estava parecendo português de portugal, ô raios.

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  • Não podendo sair do fahrenheit 451, que livro gostaria de ser?

    Nunca me imaginei sendo livro e a idéia não me agrada. Deixando a chatice de lado:
    "Diálogo Entre um Padre e um Moribundo", do Marques de Sade e "Fabulário Geral do Delírio Cotidiano", do Bukowski. Precisa explicar?
    E, sendo livro, creio que me agradaria ser "O Velho e o Mar", do Hemingway. Pelo simples fato de estar mais próximo de ver sendo cego, ouvir sendo surdo e sentir sem possuir tato, olfato ou paladar.
    Off-topic: alguém me explica esse "não podendo sair do fahrenheit"? Não entendi mesmo.


  • Alguma vez ficou apaixonado por um personagem de ficção?

    Acho que já mas não lembro a personagem. Como adoro quebrar regras, reformulo e pergunto a mim mesmo:

    stereo, com quais personagens de ficção você mais se identifica?
    Ainda não li por estar aguardando meu inglês ser suficiente para ler os originais, mas vi. Tyler Durden [Clube da Luta - Palahniuk] e Alex [Laranja Mecânica - Burgess].
    Personagens femininas. Marla Singer [Clube da Luta], a não nomeada mulher do médico [Ensaios Sobre a Cegueira - Saramago] e a matriarca Úrsula [Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez].
    Considerando música como literatura e com seus personagens não menos fictícios que os de Gabo. Mr. Brightside [Killers] e Mr. Davies [Tahiti 80].
    Além de todos os personagens masculinos de "Alta Fidelidade" [Nick Hornby].


  • Qual foi o último livro que comprou?

    "Alta Fidelidade". É, a grana está curta.


  • Qual o último livro que leu?

    "Garçom" [Elenara Viera de Viera e �ndio Cândido].
    Que que foi? London Calling, ué. Preciso me preparar.


  • Que livros está lendo?

    O interminável "Baudolino" [Eco] e a coletânea "A [Des]Construção da Música na Cultura Paranaense", escrita por vários, inclusive pelo Digão.


  • Que livros levaria para uma ilha deserta?

    Não dá para ser um iPod? Ok, vamos lá, mas antes um aviso: aconselho pular esta parte. Eu não teria paciência de ler.

    "Alice" [Lewis Carrol], para conhecer melhor alguém;
    "1984" [Orwell];
    "Ensaios Sobre a Cegueira" [Saramago];
    "Contos Reunidos" [Ruben Fonseca];
    "Alta Fidelidade" [Hornby];
    "O Caso da Borboleta Atíria" [Lucia Machado de Almeida];
    "Toda Mafalda" [Quino];
    "O Menino Maluquinho" [Ziraldo];
    "A Divina Comédia" [Dante];
    qualquer um que o Andy Warhol tivesse escrito;
    "Os Irmãos Karamázov" [Dostoievski];
    "Padre Sérgio" [Tolstoi];
    "Jogo da Amarelinha" [Cortazar];
    "Contos" [Borges];
    Rita, Ritinha, Ritona [Trevisan];
    Distraídos Venceremos [Leminski];
    "Cem Anos de Solidão" [Gabo], principalmente por ter todo o tempo do mundo para decorar a genealogia;
    "Ulisses" e todos os outros do Joyce, por ter tempo suficiente para aprender a degustar;
    além de todos os outros que estou esquecendo agora e que por isso me envergonho.


  • Para quem vai passar este desafio e porquê?

    Juliana W. S.. Por que me agrada ver o pedantismo dos outros [entenda isto como um elogio].

    Ed. Para ele ter o que postar nesses dias cinzas. Praticamente uma receita de bolo.

    LZ. Por pura curiosidade.

    Vidal. Por achar que vai irritá-lo.

    Senhorita Quelque. Por que acho que ela vai gostar e para aproveitar e pedir, na frente de todo mundo, a permissão para publicar aqui um conto dela que eu adoro.

    -----

    Obviamente seu pé não vai amanhecer como um queijo suiço se você quebrar esta corrente, mas pode perder seu emprego se tentar responder no trabalho.
    Escrevi ouvindo: Put The Book Back On The Shelf | B&S

  • 13.5.05

    something about airplanes



    aprendi com jornais que quando falta assunto [ou vontade de escrever] publicamos receitas.

    "and if it was just how you wanted
    you'd be glued to his bones and his brainstem
    and changing your image and attitudes
    won't bring you back into your bedroom
    amputating as he's waiting
    he's unresponsive 'cause you're irresponsible
    little swinger your bottle is thinking too much
    'cause you're aiming to please way off target
    and i'll tell you what you must already know
    of amputating that too slow"

    -----

    e o blog fará aniversário e não consegui fazer nada do que tinha planejado. amputating is too slow. damn fucking slow. i cant carry this anymore.
    no more.
    nem morphine tem feito passar. wilco, nada surf, death cab, portishead, zero7, sepultura, wilco, sigur rós, mogwai, ells, modest mouse, wilco, levellers, dios, devics, wilco, yo la tengo, guided, pj, moz, wilco... they are so quiet this last days. me resta ir treinando o inglês.
    escrevi ouvindo: amputations | death cab for cutie

    9.5.05

    Universal Mother



    Ó, aí eu tava lá, sabe? E... e... daí, então, apareceu um bicho desse tamanho assim ó. Aí, né, eu tava lá, assim, com um pouco de medomasnãomuito, porque muito medo é coisa de menina, né? Então, aí o monstro desse tamanho tava vindo assim, e eu corria, sabe? Mas aí eu corria e ele corria mais. Daí quando o bichão ia me apanhar minha mãe apareceu e pá!!! Deu um chutão no bicho que caiu e aí minha mãe disse pra ele ir embora e o bicho saiu correndo e aí ela me abraçou e daí a gente voltou pra casa e tava tudo bem.

    -----

    Não adianta, sempre vou me sentir uma criança no dia das mães.
    Escrevi ouvindo: My Darling Child | Sinead O'Connor

    4.5.05

    High Fidelity [ST]



    Para acompanhar o comentário do Vidal e, porque não, o post anterior. Se você não entende nada de música e não tem a menor vontade de perceber a genialidade do texto do autor, mesmo sem conhecer as músicas, pule para o segundo parágrafo.

    -----

    "Algumas das minhas canções favoritas: "Only Love Can Break Your Heart", de Neil Young; "Last Night I Dreamed That Somebody Loved Me", dos Smiths; "Call Me", com Aretha Franklin; "I Don't Want To Talk About It", com qualquer um. E há também "Love Hurts" e "When Love Breaks Down" e "How Can You Mend A Broken Heart" e "The Speed Of The Sound Of Loneliness" e "She's Gone" e "I Just Don't Know What To Do With Myself" e... algumas destas canções eu ouvi cerca de uma vez por semana, em média (trezentas vezes no primeiro mês e de vez em quando depois disso), desde os dezesseis ou dezenove ou vinte e um anos de idade. Como é que isso pode não deixar você magoado de alguma forma? Como é que isso pode não transformá-lo no tipo de pessoa passível de quebrar em pedacinhos quando seu primeiro amor dá todo errado? O que veio primeiro, a música ou a dor? Ou estava infeliz porque ouvia a música? Esses discos todos transformam você numa pessoa melancólica?

    As pessoas se preocupam com o fato das crianças brincarem com armas e dos adolescentes assistirem a vídeos violentos; temos medo de que assimilem um certo tipo de culto à violência. Ninguém se preocupa com o fato das crianças ouvirem milhares -literalmente milhares - de canções sobre amores perdidos e rejeição e dor e infelicidade e perda. As pessoas afetivamente mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo as canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes."

    -----

    Queria ser tosco como o Rob, entender de música como o Hornby -além de escrever bem como esse filhadaputa. Isso sem mencionar os outros personagens. Por falar nisso, caso tenha lido o livro, visto o filme ou a peça, reparou como todos os personagens masculinos são na verdade um resumo de um único homem? Cada um tem uma característica, que na somatória o resultado sou eu ou você (desde que você, neste caso, tenha um cromossomo Y).
    Ah, por sinal, para quem ainda está perdido, este é um trecho do "Alta Fidelidade", do autor acima citado [Nick H, o bastardo que entende de ouvir e digitar palavras na ordem certa], um dos únicos caras que conheço que utiliza "e" quando deveria ser vírgula e fica bom. Realmente bom.
    Quem quiser pode clicar aqui e pegar o roteiro do filme.
    Escrevi ouvindo: You're Gonna Miss Me | 13th Floor Elevators

    2.5.05

    Dios



    AVISO
    O post abaixo é longo e fala sobre um assunto delicado. Minha intenção é questionar uma entidade, não seus seguidores. Respeito todo tipo de crença como gosto que respeitem a minha falta de.
    Acho que um clichê religioso se aplica muito bem aqui. “Deus ama o pecador mas odeia o pecado�.
    Já dá para ter uma noção de como será, então se acha que irá lhe causar algum tipo de irritação, mágoa ou qualquer coisa do gênero, por favor não leia.
    E se for para ler superficialmente, não o faça. Isso pode causar problemas de interpretação.

    Me expliquei demais.

    -----

    Café, revista, iPod. Pelo canto de olho a aproximação de um senhor.

    Olá, posso sentar aqui?

    Abaixo a revista, retiro o fone.

    Desculpe, o que disse?
    Gostaria de sentar nesta mesa, posso?
    Claro, fique a vontade.
    Obrigado.

    Sorrio, recoloco o fone.

    O que você está ouvindo?

    Novamente mono.

    Como?
    Queria saber o que você está ouvindo.
    Ah... está no random. Agora tocava Killers.
    Assassinos? Nome estranho para uma banda. É rock?

    Risos

    Hum, não sei muito bem classificar. Pop ou rock, acho que tanto faz. Devo admitir que não gosto do nome. Mas é uma boa banda.
    E a música? Fala sobre o que?
    Alguém que perdeu sua amada e agora ela está com outro e ele não consegue parar de pensar nisso. Um sofrimento genuíno.
    Pode cantar um pedaço para mim? Seu preferido, talvez.
    Sou péssimo para cantar. Não prefere ouvir?
    Não. Gostaria que você cantasse.
    Er... é... Tá bom. Vou tentar. “Now they're going to bed | And my stomach is sick | And it's all in my head | But she's touching his chest now | He takes off her dress now | Let me go�
    Hum. Fala sobre sexo, não amor.
    Não separaria as coisas.
    Mas eles não são casados, são?
    Não creio.
    Sei. E agora? Está tocando o que?
    Rejoice.
    Essa parece melhor. A banda também tem nome esquisito?
    Tem. Pedro The Lion. Não sei dizer o que significa ou o porquê.
    E a música fala sobre?
    Hum... Parece-me alguém cansado, desesperançoso, amargurado.
    Ah, então o nome da música é irônico?
    Sim, costuma-se usar muito a ironia no rock. A própria melodia é lenta, depressiva.
    Desesperança, ironia, depressão. Ferramentas muito utilizadas pelo demônio.

    Ignoro.

    Isso não te faz pensar que o rock é uma ferramenta do mal?
    Não.
    Mas não parece lógico? Você me parece alguém inteligente.
    Não, não parece lógico. Parece-me uma lógica determinista.
    Você acredita em Deus?
    Acredito no inconsciente coletivo. Acredito em Google. Desculpe, mas lhe conheço?
    Provavelmente sim.

    Fecho a revista. Capa. Época, edição 362. Lá estava ele, que agora sorria sabendo que o reconheci.

    Não me leve a mal, caro senhor, mas não nutro simpatia por discussões religiosas. Não com pessoas que não estejam dispostas a reconsiderar crença. Isso nunca leva a nada.
    Mas estou disposto a reconsiderar meus pontos de vista. Desde que me convença.
    Não, não está. E sabe por que? Porque se você fizer isso, você some, deixa de existir.
    E você? Está disposto a reconsiderar?
    O tempo todo.
    E porque não reconsidera voltar para Deus?
    Voltar? Partindo do princípio de crença no seu Deus, desde quando estou longe?
    Há muito, meu caro amiguinho.
    Este é o seu ponto de vista. Não creio que faça mal a nenhum ser vivo. Ao contrário da sua instituição. Por falar nisso, esta é a parte da conversa que começo a me irritar. Por favor, paramos por aqui?
    O que lhe irrita?

    Suspiro

    Começo com a inquisição?
    Mas isso foi há tanto tempo. Se como disse, não faz mal a ninguém, deve ser uma pessoa que perdoa. Não consegue perdoar isso?
    As coisas não funcionam bem assim. Marcas do passado não são simplesmente apagadas. Seria mais lógico e melhor pra todos, mas não acontece. Ou você acha que o Tibet esqueceu o que a China fez com eles. Ou a China e a Coréia o Japão? Ou o Brasil e Portugal? Mas se quiser algo mais atual, acha que consigo simplesmente ignorar o silêncio da igreja durante o nazismo? Que a sua intituição ajudou criminosos, assassinos a fugirem?
    Deus ama também os malfeitores.
    Mas não é um Deus justo? Que eles pagassem por seus crimes. Não confunda a justiça divina com a terrena. Melhor, não ache que o seu Deus lhe dá autoridade sobre a justiça dos homens.
    A justiça divina está acima da lei dos homens. Mas isso faz algum tempo também.
    E acha que nesse caso foi a justiça divina que interferiu ou a dos homens? Acha que consigo ignorar o fato de milhares de famílias pobres, que mal conseguem sustentar um casal deixem seus filhos morrer de fome? Morrer no caso deles é redenção. E isso simplesmente por não poderem usar métodos contraceptivos por que vai contra a vontade divina? Que deus sádico que você tem.
    O rock o transformou em uma pessoa amargurada e rancorosa. Sua visão das coisas é deturpada. E não blasfeme.
    Se você não pode respeitar meus gostos, por que devo respeitar sua crença? Continue com seu braço de ferro. Continue matando crianças e protegendo assassinos. Deste seu deus, quero distância.
    Fico triste de ver essa juventude tão revoltada.
    Fico triste de ver sua ignorância. Agora com licença, estou ficando irritado e com nojo.

    Uma lágrima aparece no olho do ancião.

    Uma última coisa. Você não é pop, muito menos rock. Você é axé.
    Passar mal.

    Escrevi ouvindo: The Uncertainty of How Things Are | Dios