stereoloser

31.5.05

Irreversí­vel

- Desde o iní­cio?
- Ingrid, eu te amo.

O tempo passou, as coisas mudaram. Ingrid entrou cada vez mais em minha vida. Cada vez melhor. Joana agora não passava de uma lembrança boa, apagado todo o medo rancor dor e esse tipo de coisa. Joana agora era clara e sólida. Ingrid, esfumaçada por uma névoa de sonho e coisas boas, envolta numa aura intocável de cumplicidade. Ingrid, minha cara-metade, a que eu merecia e que estava guardada, a certa e intocável. Tí­nhamos ambos certeza disso.

- Cara! A Ingrid é tudo que eu sempre sonhei, é fantástica, é um sonho. Desculpa, mas não consigo não ser brega quando falo dela.
- Ah, sei lá, você não pára de falar nela, sumiu de repente, nem os amigos você vê com tanta freqüência.
- Que diabos é apanhadinho?
- Está apanhadinho por esta Ingrid hein?

E foi exatamente o que fiz. Decidi tentar. Uma duas três quatro vezes, cada vez me saí­a melhor. Não foi fácil, custou muito, mas um dia encontrei Ingrid. As coisas entre nós eram realmente fáceis, era fácil lidar um com o outro, ela complementava Joana, era menos fria, mais atenciosa, desde o primeiro momento tive a sensação de que nos conhecíamos há anos. Pela primeira vez em tanto tempo dormi pensando em alguém que não fosse Joana.

- Que tal tentar meu amigo?
- Não consigo me dedicar a ela porque Joana me incomoda e incita comparações e não some da minha vida.
- E aquela menina que você andava saindo?
- Não, todo dia ela martela meus dedões do pé e vai subindo, passa por minha barriga e leva embora minha fome, sobe até minhas unhas e faz com que elas desapareçam, chega na minha cabeça e toma todo o lugar.
- Você ainda não esqueceu Joana, não é?

Não teve jeito mesmo. Joana até gostava de mim, de um jeito que não me satisfazia mas era o máximo que ela podia dar. Talvez tenha sido isso que nos atrapalhou tanto, a expectativa de querer mais de um lado e o medo de não ser capaz de fornecer isso de outro. Incompatibilidade de expectativas, ou algo por aí­.

- Joana, Joana, sua filha da puta miserável desgraçada. Desapareça da minha vida, dos meus pensamentos, do meu estômago, por favor!

Não teve jeito. Joana estava decidida. Ela queria curtir a vida. Talvez estivesse no seu direito, apesar de me machucar e desmontar em vários pedaços, sim, era seu direito. Horrí­vel perder o controle e não ser capaz de dominar a situação por depender de outra parte.

- Joana não me deixe isso é uma grande cagada você é a pessoa perfeita pra mim isso não pode estar acontecendo!
- ...
- Joana eu te amo.


Escrevi ouvindo: Falling to Pieces | Faith no More

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Para este miserável André, meu amigo, comparsa, parceiro, irmão, dono desta espelunca, putinha relaxada. Acho que isso prova tudo comissário.