Ventura
Em um período negro um verme amigo toca a campainha e me traz uma página da revista VIP de janeiro de 2005. Uma coluna do Fabio Hernandez que reproduzo abaixo, justamente porque ajudou meu racional e acho que pode ajudar alguém que estou aprendendo a gostar bastante.
Caso ache pertinente, copie esse texto (com os devidos créditos). Mais cedo ou mais tarde vai encontrar alguém para repassar, assim como fizeram pra mim e como estou fazendo agora. Tomara que ajude.
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NEM SEMPRE SERÁ� ASSIM
Como lidar com a dor do final da paixão
Penso na dor dos amores perdidos. E penso numa fábula oriental. Mais ou menos assim: um rei pede ao homem mais sábio do reino que lhe escreva num papelzinho palavras para ler num momento de extrema aflição, um conforto na adversidade. O sábio cumpre a tarefa. Não muito tempo depois, o reino é invadido. O rei, sem saída, foge. Perdera tudo: poder, dinheiro, relevância. Ele, então, recorre ao bilhete do sábio. Ali está dito: "Nem sempre será assim". O rei caído consegue, aos poucos, rearrumar suas forças. Retoma seu reino. E encontra o sábio. Ouve, agora no fausto reconsquistado, no poder recuperado, mais uma vez a sentença: "Nem sempre será assim".
A frase resume o perpétuo vai-e-vem das elevações e quedas, a inconstância da sorte, a fugacidade de tudo que acontece sob o sol. Todo homem arrasado pelo final de um amor deveria ter no bolso um papelzinho com a advertência do sábio oriental. O sofrimento aparentemente insuportável vai desaparecer. O que parecia ser um inverno eterno dentro de nós receberá a visita redentora do sol que avisa que o verão ou já chegou ou está perto. A tristeza que estávamos certos de ser imortal revela-se frágil e é batida por uma lufada cálida de alegria.
E de novo: nem sempre vai ser assim.
Proust, se me lembro bem, notou uma curiosidade amorosa extraordinária. Certas pessoas não sofrem apenas com a dor de uma ruptura. Têm, depois, uma outra dose de sofrimento quando percebem enfim que a dor se foi. Uma espécie de nostalgia da aflição as toma e pode derrubá-las pela segunda vez. A tese proustiana é que, para alguns, se a dor se foi, é porque o amor não existiu. Foi ilusão, não realidade. Na fantasia sentimental dessas pessoas, o ideal é ficar acorrentado à dor para sempre, num roteiro lacrimejante e mórbido que nem o sábio oriental de quem falamos é capaz de alterar.
Travessia
Mas Proust falava de uma categoria que é exceção: os eufóricos do desespero, os alegres da tristeza. Os extravagantes do amor que, ao contrário de todos, torcem para que não seja ela, a amada perdida, quando o telefone toca. E que, sem se dar conta, se decepcionam se se trata de uma tentativa telefônica de reaproximação. Para o resto da humanidade, o desafio nos rompimentos é atravessar a ponte que leva da depressão à vida rotineira. A travessia é mais fácil quando sabemos que, por mais árdua que pareça, a realizaremos. Basta ser perseverante, basta ter determinação. Basta andar.
E pronto. Finalmente completamos a convalescença amorosa. Estamos num bar, numa festa, e somos assaltados subitamente pela visão miraculosa de uma mulher como jamais existiu outra. Por ela, somos capazes de tudo. Talvez até de deixar de ver uma partida de futebol do nosso time domingo à tarde. Talvez. E ela corresponde, com certeza. Aquele olhar demorado, quase fixo, sorridente: não há como se enganar. Logo nos primeiros encontros, logo as regras peculiares de cada história de amor, logo os códigos, logo os risos constantes que marcam todo começo. Parece um conto de fadas.
Mas nem sempre vai ser assim.
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O mesmo Verme que me entregou o texto escreveu em um pedaço de papel "nem sempre será assim". Esse papel tem me acompanhado sempre. Da próxima vez que encontrar você, vai ganhar um também. Ah, e procure a letra da música recomendada aí embaixo. Vale a pena também.
E Verme, mais uma vez, tu é foda.
Para ler ouvindo: Tá bom | Los Hermanos